“Eu sempre tive um sonho. Era unir todas as tribos do mundo, seria  um encontro de almas” disse Antonio Abuelo Oxte na abertura do Ik Lab Uh May. Um dos mais respeitados descendentes maia vivo no México, “o Abuelo” aprendeu com a avó processos de cura (física, emocional e da alma ) ancestrais que são aplicadas, hoje, em sua clínica na cidade de Sisbicchén, no México. E parece que o arquiteto argentino Eduardo Neira (conhecido como Roth) ouviu as preces do líder espiritual e está prestes a transformá-las em uma realidade. O primeiro passo, pelo menos, já foi dado. E que passo!

Roth reuniu figuras chave da arte, design, arquitetura, moda em seu hotel Azulik, em Tulum, para uma imersão sobre sustentabilidade ecológica e social. Como preservar o planeta e culturas indígenas preciosas? Se juntaram ao Abuelo, à Camila Argel Cayun, da comunidade indígena Mapuche que fica na Patagônia chilena,  e à César Tangoa da tribo amazônica Shipibo-Conibo nomes como Ralph Nauta e Lonneke Gordijn do Studio Drift; a arquiteta Frida Escobedo; o artista Ernesto Neto; o sócio do Therme Group Mikolaj Sekutowicz; o criativo multidisciplinar Oskar Metsavaht; e, a empreendedora Sophia Swire especializada em desenvolvimento de artesanato no mundo inteiro.

Toda essa turma estava lá, ainda, para conhecer de perto a cidade artsy criada por Roth no coração da floresta maia. “Minha ideia é unir a criatividade ocidental com a sabedoria de povos indígenas, a sabedoria das mãos”, explicou o arquiteto no dia da inauguração. Ele acredita, ainda, que a força da floresta também tem muito a ensinar. “ A reconexão com a natureza e entre pessoas de comunidades antigas e modernas é o único caminho para a evolução humana”, explica. “Presta atenção. Vocês precisam escutar a floresta.O que acontece nela também está acontecendo dentro da gente.”, explicou Ernesto Neto que já havia anunciado no Casa Vogue Experience: Quem corre risco não é o planeta Terra, somos nós.

Roth desenhou então, com ajuda dos descendentes maias locais, o o Ik Lab Uh May: um complexo interdisciplinar que inclui um museu de arte contemporânea, um laboratório de moda sustentável e design, uma escola de artes, um estúdio de gravação e residências para promover a troca cultural, além de sua própria casa. E a realização do sonho do Abuelo não para por aqui: o arquiteto argentino já comprou terras na Patagônia chilena e na Amazônia peruana para fazer outras cidades culturais promovendo o intercâmbio entre criativos ocidentais e sabedorias locais ancestrais. 

Mas ao contrário do tradicional cubo branco, o espaços aqui são  feitos em homenagem à floresta. Respeitando-a sempre. Para não interferir na estrutura da natureza, Roth seguiu as linhas orgânicas propostas pelos próprios troncos e solo da selva e não tirou nenhuma árvore do lugar: criou espaços e móveis com cimento e bejuco retorcido ( a trepadeira local pode ser moldada quando fresca e fica super resitente depois de seca!). Na entrada, os convidados recebem uma limpeza espiritual com sons e fumaças e são orientados a tirar os sapatos para sentir a força da terra tateando com os pés o piso que não foi aplanado. Parece papo hippie, mas é real: energia do lugar simplesmente acontece. Pontes flutuam e se contorcem. A arquitetura desafia os artistas a ocupar estes espaços. Mas os brasileiros Ernesto Neto, Oskar Metsavaht e Paulo Nazareth – artistas escolhidos para a primeira exposição do local chamada de Conjunctions  – não se sentem acuados. Pelo contrário, parece que o Ik Lab Uh May foi criado para receber estas obras. No centro do espaço, uma fogueira para evocar os espíritos da floresta. “ É disso que eu estou falando. Esse povo de museu vive implicando com as minhas obras quando uso fogo”, exclama Neto que costuma usar velas e ervas em suas esculturas.

“A escolha destes artistas é motivada pela ressonância do trabalho deles com a intenção de Ik Lab Uh May, que é permitir que nos reconectemos com nós mesmos, com a comunidade e com a natureza”, explica a curadora Claudia Paetzold. “Os trabalhos de Ernesto Neto incorporam crescimento orgânico e conectividade dentro e entre organismos. A obra Every Tree is a Civilizing Entity é escultura em forma de árvore feita de crochê de algodão, conecta-se com as árvores abrigadas no espaço e as circundantes. Ela preenche a lacuna entre a cultura e a natureza. Enquanto Healing House é uma capela como escultura imersiva, abre um espaço para recordação e meditação”,continua.

As performances e instalações interativas de Paulo Nazareth buscam pensar e ressignificar a presença humana na terra, enquanto a obra de Oskar Metsavaht convida os telespectadores a se reconectarem com seus “eus” mais profundos por meio de um vídeo com sinais indígenas  sobrepostos em imagens da floresta amazônica. É o resultado de uma vivência que ele teve com os índios e opera como um questionamento dos limites entre a percepção e a visão.

Ele também foi o idealizador e fundador do famoso eco-resort Azulik ( “vento azul” em maia arcaico) a uma hora e meia dali que também está em diálogo com todas as intenções do complexo cultural. No Azulik não tem internet nos quartos e os banhos são só de banheira – tudo para ajudar na conexao com a natureza. No spa do hotel, há um laboratório onde são estudadas as propriedades da plantas e raízes locais ( a ideia é criar uma linha de óleos, sabonetes e chás com base na sabedoria maia ancestral!) e os tratamentos são mais ligados aos processos de cura do povo local do que a um espaço estético. Logo no primeiro dia, o hóspede recebe uma limpeza espiritual com música tribal e fumaças criadas a partir destas matéria primas sagradas. Está esperando o que para fazer as malas e começar a sua passagem?

 

Créditos: https://casavogue.globo.com/Colunas/Gemada/noticia/2018/12/azulik-um-eco-resort-e-centro-cultural-que-promove-reconexao-com-nos-mesmos-com-comunidade-e-com-natureza.html

 

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