Dezembro Laranja: há novidade em terapias para quem descuidou do bom senso

Por Paulo Pizão, oncologista

Paulo Pizão, oncologista, pesquisador e professor universitário (Crédito: Matheus Campos)

Mesmo com as informações que se tem hoje quanto ao efeito nocivo da prolongada exposição ao sol e aos recursos para driblar os raios UVA e UVB o número de casos de câncer de pele se mantém alarmantes! De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer, o tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos). 

O tipo não melanoma para câncer de pele é altamente curável quando diagnosticado precocemente. Há a grande vantagem dele ser visível. A própria pessoa tem facilidade de encontrá-lo, familiares o notam ou o médico de qualquer especialidade numa consulta de rotina pode vê-lo durante o exame clínico.  

Porém, o câncer de pele tipo melanoma – também associado ao exagero dos raios solares – pode surgir em regiões do corpo que não ficam expostas ao sol e ele carrega consigo maior risco de desenvolver metástases em qualquer parte do organismo e gerar a morte. 

Boa notícia

ara os casos do tipo melanoma em que a doença está avançada e existe metástase, há uma boa notícia. Nos últimos dez anos em que o uso da oncologia de precisão foi amplificado, dois tratamentos têm mostrado resultados bem mais positivos que a quimioterapia, que são a imunoterapia e a terapia-alvo. 

A imunoterapia se baseia na utilização de medicações, técnicas e tratamentos que revertem a capacidade que o câncer tem de escapar do sistema imunológico que protege o organismo. Há medicamentos que incluem entre os mecanismos de ação a remoção dessa “camuflagem” do câncer e assim o próprio corpo supera essa dificuldade e combate as células cancerosas. 

A terapia-alvo consiste na descoberta, por meio de análise de parte do material extraído do tumor por biópsia ou através de cirurgia, de elementos inerentes à célula que estão facilitando o desenvolvimento da doença. Quando a pesquisa aponta que o câncer é ativo devido a um gene, uma enzina em específico ou o receptor da membrana da célula, por exemplo, pode-se preparar um remédio para atuar diretamente sobre essa interferência.    

É preciso enfatizar que os dois tratamentos não são garantia de sucesso em todos os tipos de câncer porque cada caso é diverso do outro. Mas as taxas de eficácia são maiores, bem como são menores os efeitos colaterais graves em comparação à quimioterapia.   

Há pacientes em que aplicamos a imunoterapia e a terapia-alvo em sequência e a quimioterapia permanece como terceira opção de tratamento.  

Uma das vantagens da imunoterapia em relação à quimioterapia é que o efeito pode perdurar no organismo. É como se o corpo gerasse uma memória que continuasse a sua ação depois da aplicação. Diferente da quimioterapia, que cessa a ação quando o remédio para de ser ministrado. 

O acesso reduzido a esses dois tratamentos devido ao alto valor das medicações não permite ainda que a aplicação dos fármacos seja generalizada no Brasil. Alguns pacientes precisam recorrer à via judicial para conquistar o acesso às terapias.  

Balança 

Uma vez que os tipos melanoma e não melanoma de câncer de pele são altamente preveníveis, o bom senso ordena que tenhamos uma conduta vigilante ante ao excesso de sol, especialmente em relação às crianças e jovens, período da vida em que a exposição à radiação solar é mais frequente e a conscientização desse público é reduzida. 

É certo que a produção de vitamina D no corpo está associada à exposição aos raios solares, mas jamais é preciso ficar queimando no sol das 10h às 16h para que a vitamina seja agregada ao organismo. O pouco tempo de exposição que se tome diariamente na locomoção de um lugar para outro, na ida ao mercado ou para regar o jardim já é suficiente. Ou então, a complementação feita por suplementos medicamentosos é um recurso fácil, eficaz e relativamente barato.  

Nunca é demais reforçar as recomendações: 

– Use diariamente protetor solar de qualidade com fator 30 ou maior para o bloqueio dos raios UVA e UVB. Dê preferência aos produtos com a especificação “muito resistentes à água”. Não se esqueça de passar também nas orelhas e na nuca; 

– Reaplique o protetor solar depois de transpirar, de usar toalha e de entrar na água do mar ou da piscina. 

– Quando souber que a exposição ao sol será demorada, use acessórios como chapéu, boné e roupas de tecidos tecnológicos que inibem a penetração dos raios solares.  

E lembre-se: O dano da radiação na pele é cumulativo e o câncer pode não aparecer imediatamente, mas a habitual exposição exagerada ao sol eleva muito a chance de a doença surgir anos depois. 

Crédito: Matheus Campos

Sobre o autor 

Dr. Paulo Pizão 

O oncologista Dr. Paulo Eduardo Pizão é um profissional global. Por ser docente em faculdade, gestor em instituições de saúde, atuar no atendimento clínico e por ter sido pesquisador na indústria farmacêutica, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse segmento.

Suas atividades profissionais atuais: 

Pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas), coordenador da disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP; oncologista no Instituto do Radium.

Suas especializações:

Especialista em Oncologia Clínica pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO); Especialista em Cancerologia (Oncologia Clínica) pela Associação Médica Brasileira; PhD em Medicina (Oncologia) pela Universidade Livre de Amsterdam, Holanda.


 


 

 

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